top of page
Ponte da Misarela, a 20km

QUE TAL UMA PEQUENA ESCAPADINHA A VIEIRA DO MINHO (PARTE 1)?

PORTUGUÊS

 

​Deixem-me falar-vos da minha região natal, aquela onde considero ter as minhas raízes. É um amor tardio, mas cada vez mais forte, nascido durante a minha infância, nas férias passadas em casa da minha avó. Essas experiências deram-me a oportunidade única de conhecer as pessoas e a terra, tão diferentes de tudo o que eu conhecia no meu universo simples do Bairro Alto, em Lisboa.
Proponho-vos, portanto, iniciar uma série de publicações sobre os itinerários possíveis no concelho de Vieira do Minho, que já explorei ou que pretendo percorrer assim que possível.
É uma forma de valorizar uma região muitas vezes ofuscada pelo Parque Nacional da Peneda-Gerês, amplamente promovido pelo turismo atual, como o demonstram as filas intermináveis de carros na estrada Braga-Chaves.

​

JORNADAS EM VIEIRA DO MINHO (PARTE 1)

​

Anissó é uma pequena aldeia típica do Minho, com os seus largos voltados para um vale verdejante, a arquitetura local e os espigueiros tradicionais. Parece um verdadeiro refúgio de paz, encaixado num cenário natural. Mas, como em tantas outras aldeias, os habitantes, muitas vezes emigrantes ou descendentes, abandonaram os lugares altos para se instalar no vale, junto à estrada, esvaziando aos poucos a aldeia. Quanto a mim, comprei ruínas para evitar que fossem reconstruídas em tijolo, tão distante dos materiais tradicionais usados na região. No fim, a natureza e os vestígios deixados pelas civilizações antigas acabaram por se sobrepor ao urbanismo tradicional. Hoje, a aldeia atrai numerosos visitantes, seduzidos sobretudo pela vista espetacular sobre o Ave a partir do baloiço do castro de Anissó.

​

É aqui que começa um passeio de alguns quilómetros em direção a Senhora da Lapa, em Soutelo (na mesma freguesia). Mas antes disso, impõe-se um pequeno desvio para descobrir a impressionante gruta de Lavagueiras. Tem capacidade para abrigar pessoas e animais, e conserva uma aura de mistério ligada a uma antiga lenda que evoca a presença de um urso ou de uma terra encantada.
Seguimos depois em direção a Castrinho, e mais à frente, a Castro. A paisagem é uma daquelas misturas magníficas de verde e água, tão características do Minho. Mas chega a hora de apanhar o trilho que conduz à etapa seguinte, geralmente bem sinalizado e fácil de seguir.
Após alguns quilómetros de caminhada, chega-se a um miradouro que domina outra majestosa formação granítica. Aqui não há rio, mas sim um horizonte infinito onde, em dias de céu limpo, poderíamos quase organizar um concurso de geografia.


Começa então a descida em direção às passadiças que levam a uma capela abrigada entre as fragas.

Como muitos outros santuários, este está associado a uma aparição da Virgem. Beneficia ainda da particularidade geológica de um maciço rochoso que forma uma capela natural, como se a própria natureza a tivesse moldado. Faltava apenas adaptar o interior ao culto. A capela data do final do século XVII, construída sob o reinado de D. Pedro II, antes do período de abundância do ouro, do açúcar e do milho. Hoje, o local acolhe milhares de visitantes e peregrinos num cenário ao mesmo tempo magnífico e acolhedor.

Prosseguimos então para Soutelo, uma charmosa aldeia na encosta, encaixada num pequeno vale. Aproveite para visitar a igreja, muito bem conservada (data do reinado de D. João V) e, com sorte, poderá ouvir o coro durante uma celebração.

É hora de regressar a Anissó. Pelo caminho, repare em alguns vestígios de moinhos de água antes de voltar a pegar no carro para percorrer a famosa "volta dos tristes", o caminho nostálgico dos visitantes após conhecerem a barragem e a beleza do vale.


A poucos quilómetros fica a barragem do Ermal. O seu espelho de água é verdadeiramente impressionante. Construída em 1936, a barragem de Guilhofrei é a primeira sobre o rio Ave. É também uma das raras em granito, o que lhe confere um charme singular. A partir da barragem, atravessa-se a localidade com o mesmo nome, antes de seguir por várias praias fluviais, igrejas e até pequenos solares.

Seguimos depois para Rossas, uma vila que ainda conserva muitos edifícios notáveis, vestígios da época dourada do milho. A Casa Bairral, por exemplo, dá uma boa ideia da riqueza da região no século XVII. E não só: aqui encontram-se também outros solares, barragens, e um museu surpreendente – o Museu Mota, cuidadosamente concebido pelo doutor Vieira Leite.

​

Continuamos em direção a Vieira do Minho, acompanhando ribeiros, pontes e meandros de rios até Mosteiro. Aqui pode admirar uma igreja monumental de estilo maneirista e rococó, herdeira de um mosteiro do século XV. Esta riqueza arquitetónica é completada por outras casas nobres como a Casa da Pena, e sobretudo, por um dos melhores restaurantes que conheço: a Casa Pancada, onde reina a hospitalidade calorosa da proprietária, Arminda.

​

Chegamos finalmente a Vieira do Minho, aninhada num belo vale e atravessada por um ribeiro que irriga vários espaços verdes, incluindo o magnífico jardim municipal. A vila possui esplêndidos solares (Casa da Cultura, Casa de Lamas, Casa da Cuqueira, Casa da Laje), uma biblioteca acolhedora, e numerosos festivais e feiras. Talvez tenham a sorte de assistir a corridas de cavalos locais, onde os cavaleiros galopam com fervor pelas ruas. O verdadeiro espetáculo continua a ser a tourada, que atrai dezenas de milhares de apaixonados. Vale a pena ver, nem que seja apenas para observar um animal com perto de uma tonelada enfrentar outro, fazendo tremer o chão. Vieira tem ainda muito mais para oferecer: uma excelente gastronomia, vestígios históricos (castelos, mamoas, necrópoles, troços de vias romanas) e, claro, construções medievais, nomeadamente várias pontes. Mas Vieira são sobretudo as pessoas: calorosas e acolhedoras, que dão toda a alma à vila.

​

É hora de regressar a Anissó para encerrar este périplo. Antes de partir, deixem-me chamar a atenção para uma última curiosidade: os espigueiros, ou canastros, como aqui se chamam. Estas estruturas serviam antigamente para armazenar o milho e outros cereais, protegidos da humidade e dos roedores. Hoje, mesmo que muitas vezes estejam abandonados ou em ruína, continuam a ser um dos mais belos símbolos da arquitetura local, e um testemunho precioso do que foi o Minho na época dourada do milho.

​

​

ENGLISH

​

HOW ABOUT A LITTLE GETAWAY TO VIEIRADO MINHO (PART 1)?

​

Let me tell you about my native region, the place where I consider my roots to be. It's a late-blooming love, but one that has grown stronger and stronger, born during my childhood while on holiday at my grandmother's house. These experiences gave me the unique opportunity to get to know the people and the land, so different from anything I knew in my simple world in Bairro Alto, Lisbon.

So I propose to start a series of posts on possible itineraries in the municipality of Vieira do Minho, which I have already explored or intend to explore as soon as possible.

It is a way of highlighting a region often overshadowed by the Peneda-Gerês National Park, which is widely promoted by the tourism industry, as evidenced by the continuous lines of cars on the Braga-Chaves road.

​

DAYS IN VIEIRA DO MINHO (PART 1)

​

Anissó is a small village typical of the Minho region, with its small squares overlooking a green valley, its local architecture and its traditional granaries. It looks like a real haven of peace, nestled in a natural setting. But as in many other villages, the inhabitants, often emigrants or their descendants, have left the hills to settle in the valley, along the road, gradually emptying the village. As for me, I bought some ruins to prevent them from being rebuilt in brick, far removed from the traditional materials used in the region.

Ultimately, nature and the traces left by ancient civilisations prevailed over traditional urban planning. The village now attracts many visitors, who are particularly drawn to the spectacular view of the Ave from the swing at the Anissó fort.

​

This is where a few kilometres' walk towards Senhora da Lapa, in Soutelo (in the same parish), begins. But before that, a short detour is a must to discover the impressive Lavagueiras cave. It can shelter people and animals and retains an aura of mystery linked to an ancient legend evoking the presence of a bear or an enchanted moor.

We continue towards Castrinho, then Castro. The landscape is one of those magnificent blends of green and water so characteristic of Minho. But it is time to take the path leading to the next stage, which is generally well marked and easy to follow.

​

After a few kilometres of walking, we reach a viewpoint overlooking another majestic granite formation. Here, there is no river, but an infinite horizon where, in good weather, one could almost organise a geography competition.

The descent then begins towards the footbridges leading to a chapel nestled between the cliffs.

Like many other sanctuaries, this one is associated with an apparition of the Virgin Mary. It also benefits from the geological feature of a rocky massif forming a natural chapel, as if nature itself had shaped it. All that remained was to fit out the interior for worship. The chapel dates back to the late 17th century, built during the reign of King Pedro II, before the period of abundance of gold, sugar and corn. Today, the site welcomes thousands of visitors and pilgrims in a setting that is both magnificent and hospitable.

​

We then head to Soutelo, a charming hillside village nestled in a small valley. Take the opportunity to visit the well-preserved church (dating from the reign of João V), and if you are lucky, you may hear the choir during a service.

It's time to return to Anissó. Take the opportunity to admire some remains of water mills before getting back in the car to take the famous ‘volta dos tristes’, the nostalgic route taken by visitors after discovering the dam and the beauty of the valley.

A few kilometres away is the Ermal dam. Its mirror-like surface is truly impressive. Built in 1936, the Guilhofrei dam is the first on the River Ave. It is also one of the few made of granite, which gives it a unique charm. From the dam, you pass through the village of the same name, before driving alongside several river beaches, churches and even small manor houses.

​

Let's continue on to Rossas, a town that still has many remarkable buildings, remnants of the golden age of corn. The Bairral house, for example, gives a good idea of the wealth of the region in the 17th century. And that's not all: there are also other manor houses, dams, and an amazing museum, the Mota Museum, carefully designed by Dr Vieira Leite.

​

Let's continue on to Vieira do Minho, following streams, bridges and meandering rivers to Mosteiro. There we can admire a monumental church in the Mannerist and Rococo styles, the heir to a 15th-century monastery. This architectural wealth is complemented by other noble residences such as the Casa da Pena, and above all, by one of the best restaurants I know: Casa Pancada, where the owner, Arminda, offers a warm welcome.

​

Finally, we arrive in Vieira do Minho, nestled in a beautiful valley and crossed by a stream that irrigates several green spaces, including the magnificent municipal garden. The town has splendid mansions (Casa da Cultura, Casa de Lamas, Casa da Cuqueira, Casa da Laje), a welcoming library, and numerous festivals and fairs. You may be lucky enough to attend local horse races, where riders gallop enthusiastically through the streets. The real spectacle, however, is the bullfight, which attracts tens of thousands of enthusiasts.

It is worth seeing, if only to watch an animal weighing nearly a tonne confront another, causing the ground to shake. Vieira has much more to offer: excellent cuisine, historical remains (castles, mamoas, necropolises, sections of Roman roads) and, of course, medieval buildings, including several bridges. But Vieira is above all a place of warm and welcoming inhabitants, who give the town its soul.

​

It is time to return to Anissó to end this journey. Before leaving, let me draw your attention to one last curiosity: the grain stores, or canastros, as they are called here. These structures were once used to store corn and other cereals, protecting them from moisture and rodents. Today, even though they are often abandoned or in ruins, they remain one of the most beautiful symbols of local architecture and a precious reminder of what Minho was like during the golden age of corn.

​

​

FRANÇAIS

 

QUE DIRIEZ-VOUS D'UNE PETITE ESCAPADE À VIEIRA DO MINHO (PARTIE 1) ?

​

Laissez-moi vous parler de ma région natale, celle où je considère avoir mes racines. C’est un amour tardif, mais de plus en plus fort, né pendant mon enfance, lors de vacances chez ma grand-mère. Ces expériences m'ont offert la chance unique de connaître les gens et la terre, si différents de tout ce que je connaissais dans mon univers simple du Bairro Alto, à Lisbonne.

Je vous propose donc de commencer une série de publications sur les itinéraires possibles dans la municipalité de Vieira do Minho, que j’ai déjà explorés ou que j’ai l’intention d’emprunter dès que possible.

C’est une façon de mettre en lumière une région souvent éclipsée par le parc national de Peneda-Gerês, largement promu par le tourisme actuel, comme en témoignent les files continues de voitures sur la route Braga-Chaves.

 

JOURNÉES À VIEIRA DO MINHO (PARTIE 1)

​

Anissó est un petit village typique du Minho, avec ses placettes donnant sur une vallée verdoyante, son architecture locale et ses greniers traditionnels. On dirait un véritable havre de paix, blotti dans un écrin de nature. Mais comme dans bien d'autres villages, les habitants, souvent des émigrés ou leurs descendants, ont quitté les hauteurs pour s'installer dans la vallée, le long de la route, vidant peu à peu le village. Quant à moi, j’ai acheté des ruines pour éviter qu'elles ne soient reconstruites en briques, bien éloignées des matériaux traditionnels utilisés dans la région. Finalement, la nature et les traces laissées par les civilisations anciennes ont pris le dessus sur l’urbanisme traditionnel. Le village attire désormais de nombreux visiteurs, séduits notamment par la vue spectaculaire sur l’Ave depuis la balançoire du fort d’Anissó.

​

C’est ici que commence une balade de quelques kilomètres en direction de Senhora da Lapa, à Soutelo (dans la même paroisse). Mais avant cela, un petit détour s’impose pour découvrir l’impressionnante grotte de Lavagueiras. Elle a la capacité d’abriter des personnes et des animaux, et conserve une aura de mystère liée à une ancienne légende évoquant la présence d’un ours ou d’une lande enchantée.

​

Nous poursuivons vers Castrinho, puis Castro. Le paysage est un de ces magnifiques mélanges de vert et d’eau, si caractéristiques du Minho. Mais il est temps d’emprunter le sentier menant à l’étape suivante, généralement bien balisé et facile à suivre.

Après quelques kilomètres de marche, on atteint un point de vue qui surplombe une autre majestueuse formation granitique. Ici, il n’y a pas de rivière, mais un horizon infini où, par beau temps, on pourrait presque organiser un concours de géographie.

La descente commence ensuite vers les passerelles menant à une chapelle blottie entre les falaises.

Comme beaucoup d'autres sanctuaires, celui-ci est associé à une apparition de la Vierge. Il bénéficie en outre de la particularité géologique d’un massif rocheux formant une chapelle naturelle, comme si la nature elle-même l’avait façonnée. Il ne restait plus qu’à en aménager l’intérieur pour le culte. La chapelle date de la fin du XVIIe siècle, construite sous le règne du roi Pedro II, avant la période d’abondance de l’or, du sucre et du maïs. Aujourd’hui, le site accueille des milliers de visiteurs et de pèlerins dans un cadre à la fois magnifique et hospitalier.

Nous nous dirigeons ensuite vers Soutelo, un charmant village à flanc de colline, niché dans une petite vallée. Profitez-en pour visiter l’église, très bien conservée (elle date du règne de João V), et si vous êtes chanceux, vous pourrez entendre la chorale lors d’un office.

​

Il est temps de retourner à Anissó. Profitez-en pour admirer quelques vestiges de moulins à eau avant de reprendre la voiture pour emprunter la fameuse "volta dos tristes", le chemin nostalgique qu’empruntent les visiteurs après avoir découvert le barrage et la beauté de la vallée.

À quelques kilomètres se trouve le barrage d’Ermal. Son miroir d’eau est vraiment impressionnant. Construit en 1936, le barrage de Guilhofrei est le premier sur la rivière Ave. C’est aussi l’un des rares en granit, ce qui lui confère un charme singulier. Depuis le barrage, on traverse la localité du même nom, avant de longer plusieurs plages fluviales, des églises et même de petits manoirs.

​

Poursuivons vers Rossas, une ville qui conserve encore de nombreux bâtiments remarquables, vestiges de l’âge d’or du maïs. La maison Bairral, par exemple, donne une bonne idée de la richesse de la région au XVIIe siècle. Et ce n’est pas tout : on y trouve également d’autres manoirs, des barrages, et un étonnant musée, le musée Mota, conçu avec soin par le docteur Vieira Leite.

​

Continuons vers Vieira do Minho, en longeant ruisseaux, ponts et méandres de rivières jusqu’à Mosteiro. On peut y admirer une église monumentale de style maniériste et rococo, héritière d’un monastère datant du XVe siècle. Cette richesse architecturale est complétée par d’autres demeures nobles comme la Casa da Pena, et surtout, par l’un des meilleurs restaurants que je connaisse : Casa Pancada, où règne l’accueil chaleureux de la propriétaire, Arminda.

​

Nous arrivons enfin à Vieira do Minho, nichée dans une superbe vallée et traversée par un ruisseau qui irrigue plusieurs espaces verts, dont le magnifique jardin municipal. La ville possède de splendides manoirs (Casa da Cultura, Casa de Lamas, Casa da Cuqueira, Casa da Laje), une bibliothèque accueillante, et de nombreux festivals et foires. Vous aurez peut-être la chance d’assister à des courses de chevaux locales, où les cavaliers galopent avec ferveur à travers les rues. Le vrai spectacle reste la corrida, qui attire des dizaines de milliers de passionnés. Elle vaut la peine d'être vue, ne serait-ce que pour voir un animal de près d'une tonne affronter un autre, faisant trembler le sol. Vieira a encore beaucoup à offrir : une excellente gastronomie, des vestiges historiques (châteaux, mamoas, nécropoles, tronçons de voies romaines) et bien sûr, des constructions médiévales, notamment plusieurs ponts. Mais Vieira, ce sont surtout des habitants chaleureux et accueillants, qui donnent toute son âme à la ville.

​

Il est temps de retourner à Anissó pour clore ce périple. Avant de partir, laissez-moi attirer votre attention sur une dernière curiosité : les greniers à blé,ou canastros, comme on les appelle ici. Ces structures servaient autrefois à stocker le maïs et autres céréales, à l’abri de l’humidité et des rongeurs. Aujourd’hui, même s’ils sont souvent abandonnés ou en ruine, ils restent l’un des plus beaux symboles de l’architecture locale, et un témoignage précieux de ce qu’était le Minho à l’âge d'or du maïs.​

 

​

ESPAÑOL

​

¿QUÉ LES PARECE UNA PEQUEÑA ESCAPADA A VIEIRA DO MINHO (PARTE 1)?

​

Permítanme hablarles de mi región natal, donde siento que están mis raíces. Es un amor tardío, pero cada vez más fuerte, nacido durante mi infancia, en las vacaciones en casa de mi abuela. Aquellas experiencias me ofrecieron la oportunidad única de conocer a la gente y la tierra, tan diferentes de todo lo que conocía en mi pequeño universo del Bairro Alto, en Lisboa.

Les propongo entonces comenzar una serie de publicaciones sobre los posibles itinerarios en el municipio de Vieira do Minho, que ya he explorado o que tengo intención de recorrer en cuanto pueda.

Es una manera de dar visibilidad a una región a menudo eclipsada por el Parque Nacional de Peneda-Gerês, ampliamente promovido por el turismo actual, como lo demuestran las largas filas de coches en la carretera Braga-Chaves.

​

DÍAS EN VIEIRA DO MINHO (PARTE 1)

​

Anissó es un pequeño pueblo típico del Minho, con sus plazuelas que dan a un valle verde, su arquitectura local y sus hórreos tradicionales. Parece un verdadero remanso de paz, escondido en un entorno natural. Pero como en muchas otras aldeas, los habitantes, a menudo emigrantes o sus descendientes, han dejado las alturas para instalarse en el valle, a lo largo de la carretera, vaciando poco a poco el pueblo. Por mi parte, compré unas ruinas para evitar que fueran reconstruidas con ladrillo, materiales muy alejados de los tradicionales de la región. Finalmente, la naturaleza y las huellas de antiguas civilizaciones se impusieron al urbanismo tradicional. Hoy, el pueblo atrae a numerosos visitantes, seducidos en particular por la vista espectacular del río Ave desde el columpio del fuerte de Anissó.

​

Desde aquí comienza una caminata de algunos kilómetros en dirección a Senhora da Lapa, en Soutelo (en la misma parroquia). Pero antes, es imprescindible un pequeño desvío para descubrir la impresionante cueva de Lavagueiras. Tiene la capacidad de albergar personas y animales, y conserva un aura de misterio ligada a una antigua leyenda que menciona la presencia de un oso o un páramo encantado.

​

Continuamos hacia Castrinho y luego Castro. El paisaje es una de esas mezclas magníficas de verde y agua, tan características del Minho. Pero es hora de tomar el sendero que lleva a la siguiente etapa, generalmente bien señalizado y fácil de seguir.

Después de unos kilómetros de caminata, se alcanza un mirador que domina otra majestuosa formación granítica. Aquí no hay río, pero sí un horizonte infinito donde, en días claros, uno podría organizar un concurso de geografía.

Luego comienza el descenso hacia las pasarelas que conducen a una capilla encajada entre acantilados.

Como muchos otros santuarios, este está asociado a una aparición de la Virgen. Además, goza de una particularidad geológica: un macizo rocoso que forma una capilla natural, como si la misma naturaleza la hubiera esculpido. Solo hizo falta acondicionar el interior para el culto. La capilla data de finales del siglo XVII, construida durante el reinado del rey Pedro II, antes del periodo de abundancia del oro, el azúcar y el maíz. Hoy, el lugar acoge a miles de visitantes y peregrinos en un entorno tanto magnífico como acogedor.

​

Nos dirigimos luego hacia Soutelo, un encantador pueblo en la ladera de una colina, enclavado en un pequeño valle. Aprovechen para visitar la iglesia, muy bien conservada (data del reinado de João V), y si tienen suerte, podrán escuchar al coro durante una misa.

​

Es hora de regresar a Anissó. Aprovechen para admirar algunos vestigios de antiguos molinos de agua antes de tomar el coche y recorrer la famosa "volta dos tristes", el camino nostálgico que toman los visitantes tras descubrir la presa y la belleza del valle.

A pocos kilómetros se encuentra la presa de Ermal. Su espejo de agua es realmente impresionante. Construida en 1936, la presa de Guilhofrei fue la primera en el río Ave. Es también una de las pocas hechas de granito, lo que le confiere un encanto singular. Desde la presa, se atraviesa la localidad del mismo nombre, antes de bordear varias playas fluviales, iglesias e incluso pequeños palacetes.

Continuamos hacia Rossas, una localidad que conserva aún muchos edificios notables, vestigios de la edad de oro del maíz. La casa Bairral, por ejemplo, ofrece una buena idea de la riqueza de la región en el siglo XVII. Y eso no es todo: también se encuentran otros solares, presas y un sorprendente museo, el museo Mota, cuidadosamente diseñado por el doctor Vieira Leite.

​

Seguimos hacia Vieira do Minho, bordeando arroyos, puentes y meandros de ríos hasta llegar a Mosteiro. Allí puede admirarse una iglesia monumental de estilo manierista y rococó, heredera de un monasterio del siglo XV. Esta riqueza arquitectónica se complementa con otras casas nobles como la Casa da Pena y, sobre todo, con uno de los mejores restaurantes que conozco: Casa Pancada, donde reina la cálida acogida de la propietaria, Arminda.

​

Finalmente llegamos a Vieira do Minho, enclavada en un hermoso valle y atravesada por un arroyo que riega varios espacios verdes, incluido el magnífico jardín municipal. La ciudad posee espléndidas casas señoriales (Casa da Cultura, Casa de Lamas, Casa da Cuqueira, Casa da Laje), una biblioteca acogedora, y numerosos festivales y ferias. Quizás tengan la suerte de presenciar carreras de caballos locales, donde los jinetes galopan con fervor por las calles. El verdadero espectáculo sigue siendo la corrida, que atrae a decenas de miles de apasionados. Vale la pena verla, aunque solo sea para observar cómo un animal de casi una tonelada se enfrenta a otro, haciendo temblar el suelo. Vieira aún tiene mucho que ofrecer: una excelente gastronomía, vestigios históricos (castillos, túmulos, necrópolis, tramos de calzadas romanas) y, por supuesto, construcciones medievales, especialmente varios puentes. Pero Vieira son sobre todo sus habitantes, cálidos y acogedores, quienes dan alma a la ciudad.

 

Es hora de regresar a Anissó para cerrar este recorrido. Antes de irse, permítanme llamar su atención sobre una última curiosidad: los hórreos, o canastros, como se les llama aquí. Estas estructuras servían antaño para almacenar maíz y otros cereales, a salvo de la humedad y de los roedores. Hoy, aunque a menudo están abandonados o en ruinas, siguen siendo uno de los símbolos más bellos de la arquitectura local, y un testimonio precioso de lo que fue el Minho en la época dorada del maíz.

 

Outros textos

bottom of page